Ser autista é tão “peculiar” que fica difícil definir. Há autistas que falam, outros não; autistas de alta funcionalidade, outros que não conseguirão a independência; autistas que fazem contato visual, outros não; autistas com estereotipias, outros sem.
Tem algo, porém, que se parece muito nos autistas: as mães deles. Mães apresentadas a um "mundo azul" que, num primeiro momento, se vestiu de preto. É a fase do luto, do medo, da dor. Sim, com o diagnóstico, morre o filho idealizado para nascer o filho autista!
Antes do luto, muitas passam pela fase da negação. Nela, a mãe tenta acreditar que vai passar: que o filho que não aponta vai apontar; o que não fala vai falar; o que não interage puxou aos pais tímidos; o que só gira os brinquedos logo brincará com funcionalidade; o que não gosta de crianças da mesma idade é porque ainda não tem costume.
Com o tempo, tudo o que a criança não faz começa a ficar mais evidente. As comparações com amigos e primos começam a angustiar. Vem o diagnóstico: autismo.
Sabe o luto? Ele não pode ser bem vivido, pois tem “outro filho” que depende de você! É o mesmo que morreu, mas renasceu... agora, autista! É preciso ir a luta. É preciso intervir. Levanta! Vem compreendê-lo, vem ajudá-lo!
Seu filho autista (re)nasce! Você chora.. Lágrimas novas, muitas vezes, só suas! O tempo começa a ser medido não mais em horas. É o tempo antes da fonoaudióloga ou durante a TO. Pode ser o tempo depois do neurologista ou entre a equoterapia e a psicóloga.
E, assim, nasce a "mãe terapeuta". A mãe que, muitas vezes, deixa a profissão para ser terapeuta sem remuneração. A mãe que, diante do filho, acredita. E, no banheiro, chora a dúvida. A mãe que diz ao filho que ele consegue, mas - no silêncio da noite - molha o travesseiro chorando as incertezas!
Que bom que a noite escura passa. E, no dia seguinte, surge um céu azul. Nele, há um sol que - além de secar lágrimas - ilumina o autista para que ele avance, supere, brilhe, seja aceito, consiga, ame, experimente o amor e voe, o mais alto que ele puder, nesse (tão desafiador) céu azul!
Texto de Rafaella Gois - IG @contando.historinhas